Desobediência:o ato de desobedecer e as consequências de suas decisões
By Unknown - 07:16
Texto revisado por Letícia Misna
Dirigido
por Sebastian Lélio e baseado no livro de Naomi Alderman, Desobediência é um romance que conta a história de Ronit Krushka (Rachel Weisz), uma
mulher que, depois da morte de seu pai,volta para a comunidade judaicaem
quecresceu elá reencontra seus amigos de infância Esti Kuperman(Rachel McAdams)
e Dovid Kuperman (Alessandro Nivola).
Durante a primeira parte da narrativa, Ronit tem que
lidar com as consequências de sua escolha, já que Ronit optou por sair daquela comunidade e viver
sua vida em Nova York, lá ela pôde sentir a liberdade de ser quem ela é, e se
relacionar com quem ela quiser, incluindo homens e mulheres. Devido a
decisão de ir embora e não ter seguido os mesmos passos que seu pai, as pessoas
passaram a esquecer que ela fazia parte daquela comunidade.
O filme retrata muito bem como funciona o
judaísmo ortodoxo, como é o dia a dia daquela comunidade, como se vestem. Os homens, por exemplo, usam barba
longa, capote preto e a cabeça coberta
por chapéu ou quipá, já as mulheres utilizam saias que vão até seus pés e
peruca, pois segundo a tradição elas só podem mostrar joelhos, cotovelos e
cabelos para seus maridos.
Outro ponto
abordado são seus hábitos, assim mostram como funcionam as relações entre eles, e assim passamos a entender
motivos pelos quais levaram Ronit a ir embora e refazer sua vida em outro lugar.
É interessante observar que apesar de Ronit ter
escolhido sair de Londres, ela não possui nenhuma repulsa àquela religião.
Muito pelo contrário, ela respeita a comunidade e se insere nela muito bem, ao
participar de todas as cerimônias referentes ao judaísmo ortodoxo.
O relacionamento
entre Ronit e Esti
Ao logo da narrativa Ronit e Esti vão se
reaproximando.Essa interação acontece de forma lenta, mas necessária. Esti tem
dificuldades de reaproximar-se de Ronit, justamente por causa da decisão de
personagem de Weisz ter ido embora.
Durante essa
reaproximação, percebe-se que as duas mulheres tiveram um envolvimento
romântico antes da personagem de Rachel Weisz ter ido para Nova York. E Esti
sofreu muito com essa separação, ainda mais porque teve que lidar com o fato de
que as pessoas daquela comunidade tinha descoberto que ela é lésbica.
Assim Ronit e Esti possuem muitas camadas, pois elas
passam por muitas dificuldades e questionamentos ao longo de suas vidas. Enquanto
Krushka tem que lidar com as consequências de sua escolha, Kuperman aprendeu a se
adaptar àquela comunidade, inclusive
o pai de Ronit foi quem incentivou Kuperman a se casar com Dovid, para abafar os rumores de que ela é lésbica.
Esti tentou encontrar uma razão para continuar,
então se tornou professora.
Ela incentiva as meninas da comunidade a irem atrás dos seus sonhos,
ampliarem sua mente para além do que a religião prega.
O que eu mais gosto em Kuperman é a forma como ela
muda. É lindo de se ver quando Esti tira sua
peruca e roupas que cobrem seu corpo até o pescoço. Nesse momento você percebe
quem é a Kuperman de verdade, e apenas Ronit consegue fazer com que a personagem
de McAdams se sinta à vontade para
ser quem ela é.
Por falar nisso, as duas atrizes tem uma química
incrível, você realmente acredita que ali tem um sentimento e que foi construído
antes mesmo de Ronit ir embora. As duas mulheres têm uma ligação muito forte, formado por uma mistura de amizade e
atração.
Outro ponto é o personagem de Dovid que tinha tudo para ser o vilão da história. Pois como é casado com Esti e
muito religioso, ele poderia impedir que as duas ficassem juntas, mas o
que podemos perceber é que Dovid coloca seus sentimentos de amizade e respeito
antes de suas crenças.
Desobediência e
a sexualização
O que mais chamou a minha atenção é que a atriz e produtora do filme, Rachel
Weisz, fez questão de participar da edição da cena de sexo lésbico entre
Roni e Esti desse modo evitando qualquer
tipo de sexualização.
Em uma entrevista para a New York Times, Weisz afirma que a cena de sexo não está ali
gratuitamente, mas para simbolizar uma redescoberta de Esti, personagem
interpretada por Rachel McAdams
Isso é um ponto muito importante, já que em muito longas essa prática é muito comum. Se
perceber, a maioria dos filmes lésbicos utiliza o sexo de forma gratuita,
apenas para expor o ato.
Isso aconteceu quando o filme francês Azul é a cor mais quente foi gravado. Anos
depois as duas atrizes, Léa Seydoux e Adele Exarchopoulos, afirmaram que
durante as cenas íntimas se sentiram extremamente desconfortáveis e expostas,
já que elas ficaram durante horas fazendo as filmagens dessas cenas.
A importância de retratar o romance lésbico é que
torna a sexualidade muito mais real e palpável, assim, o filme traz uma
diferenciação nessa abordagem trazendo mais realismo ao romance.
E muito mais do que isso, Desobediênciafaz uma critica forte à influência na religião na
formação do seu caráter e comportamentos. Além de mostrar que todos os seres
humanos são livres para fazer suas escolhase lidar com as consequências.